Mais Referendos
Volto ao tema dos referendos.
Não sou extremista. Não gosto de extremismos. Pessoalmente considero os extremismos como a arma daqueles que não conseguem transmitir de forma equilibrada os seus pontos de vista.
Da mesma forma, não assumo derrotismos à partida. Nem falsos optimismos.
No que toca à questão da IVG, sei que o "Sim" provavelmente acabará um dia por ganhar: se não for agora, ao 2º referendo, há-de ser ao 3º, ao 5º, ao 10º ou ao centésimo.
É como no Futebol: qualquer equipa (por mais forte que seja) pode um dia perder como outra equipa (por mais fraca que seja). O tempo e a estatística se encarregarão de que assim seja.
Considero que o que há a fazer agora é olhar em frente, para a frente, mais para a frente: o "SIM" ganha... e depois? O que vamos fazer, nós que consideramos essa opção um erro?
Vivendo em democracia, temos que dar provas de maturidade e aceitar esse resultado imposto por uma maioria, quiçá pouco esclarecida, quiça pouco informada, quiçá pouco sensibilizada para o verdadeiro alcance dessa decisão...
A aceitação do resultado não quer no entanto dizer que nos conformemos, haverá que desenvolver formas de continuar a lutar pela abolição de uma lei que é injusta e absurda.
O facto de ponderarmos sequer a hipótese de que ela venha a ser aprovada é sinal de uma Sociedade profundamente doente: uma Sociedade esquizofrénica e demente, que olha com total passividade para o drama do decréscimo populacional e que pondera acerca de uma lei que contribui para que essa situação se agrave; um Estado que atravessa uma crise de Finanças Públicas e de Segurança Social que podem por em causa os seus próprios alicerces e que cria uma lei que dá o poder a um segmento da sua população de poder decidir impunemente acerca da vida de outrém; um País com uma enorme franja do seu território em desertificação que pondera acerca da criação de uma lei que mais não faz do que acentuar esta e outras situações.
O verdadeiro debate deveria ser: o que fazer para que o Interior do país não morra? O que fazer para que no Interior do País não se morra à espera de tratamento médico depois de um acidente? O que fazer para incentivar os jovens a ter filhos? Que leis temos que criar para proteger a família?
Há pois que olhar em frente, mais para a frente: em França, 30 anos depois das primeiras leis pró-aborto, as pessoas pedem, nas ruas, o retrocesso (?) da Lei: escolas vazias e fechadas, envelhecimento da população, crise profunda da Segurança Social - são motivos egoístas os que em última análise motivam esses protestos, mas o que é certo é que eles acontecem.
Li há pouco tempo um Livro que se chama "Os Filhos dos Homens", recentemente adaptado para o cinema, que retrata uma situação num futuro próximo em que uma doença desconhecida retira à Humanidade a capacidade de se reproduzir. É uma história que levanta muitas reflexões, acerca de muita coisa: em última análise aponta um caminho inesperado para a Extinção da Raça Humana - não um cataclismo inesperado, não um Holocausto Atómico, mas da perda da capacidade reprodutora.
Contei ao meu filho mias velho (tem 6 anos) como era a escola no meu tempo, o que fazíamos, como brincávamos... ele apesar dos 40 canais de televisão, da Playstation, do futebol e da natação ouviu-me e disse: "Eh pai! A tua escola era bué da fixe! gostava que a minha fosse assim como a tua, com muitos meninos!"
Mas que fazer?
De repente penso que os Cristãos e todos os que connosco partilham esta convicção de defesa incondicional pela vida, deveriam passar a assinalar o dia em que o Povo referende o Aborto, com manifestações pela vida (seja este 11 de Fevereiro, ou outro "11 de Fevereiro" qualquer): uma grande manifestação pela vida, independente de Raça, Credo, Cor Política. Uma marcha pelas ruas das cidades e vilas. Uma vela à janela de cada lar. Por cada escola que feche, por cada aldeia abandonada e morta, uma vela num local qualquer.
Depois acho que deveríamos criar um sistema de rating: definir boas práticas, criar um "Manual da Vida". As Instituições de Saúde, de Ensino, etc. que o seguissem receberiam pontos. Quanto mais pontos tivessem mais aconselhadas seriam. Afinal de contas, apesar da Lei, também nós devemos poder escolher.
Porque isto está tudo interligado...
Não acredito em radicalismos, nem vou pelas ameaças: Jesus Cristo propôs-se a todos os que O quiseram seguir pelo Amor.
Acredito que continua a fazê-lo hoje em dia com cada um de nós.
Alguns cristãos defendem a excomunhão dos que votem pelo "SIM"; outros que votam "SIM" dizem que tratamos as mulheres como assassinas... e assim seguiremos até ao Dia do Juízo Final.
E, nós, cristãos, enquanto esgrimimos argumentos que mais não fazem do que alimentar o nosso orgulho, perdemos o cerne da questão: "Que faria Jesus Cristo? Votaria? Calaria? Falaria? Condenaria? Ajudaria?"
Diria "Quem nao tem pecados atire a primeira pedra!"?
Exerceria violência, como fez com os Vendilhões do Templo?
Diria "Se tivésseis fé do tamanho de um grão de mostarda (ou de um embrião com dois dias de vida) poderieis mover montanhas"?
No futuro, as gerações olharão para este período e verão uma Sociedade doente, sem valores, que por não acreditar em nada, acredita em tudo, supersticiosa, ingénua, cega, tal como olhamos hoje para a Idade Média, as Cruzadas, as Fogueiras da Inquisição... reconhecemos os erros e achamos incrível como foi possível que isso pudesse acontecer...?
Estes senhores que agora defendem o Aborto deveriam aprender connosco, com os nosso erros, para que não sejam, no futuro, julgados, da mesma forma que agora nos julgam a nós.